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Tipos de Criptoativos: Usos e Impactos Jurídicos

Os criptoativos emergiram como uma inovação disruptiva no cenário financeiro global, introduzindo novas formas de transações e investimentos. Compreender os diferentes tipos de criptoativos, suas aplicações práticas e as implicações legais associadas é essencial para profissionais do direito e aqueles que possuem interesse em participar desse mercado.

Portanto, ter uma compreensão dos principais conceitos relacionados, assim como os diferentes tipos de ativos virtuais (mais conhecidos como criptoativos) se mostra como um diferencial e um conhecimento essencial para se preparar para as novas evoluções do mundo digital.

O que são Criptoativos e por que entender sua regulamentação é essencial

Criptoativos são representações digitais de valores ou direitos que podem ser transferidos e armazenados eletronicamente, utilizando a tecnologia blockchain para garantir segurança e transparência. De acordo com o Marco Legal dos criptoativos (Lei nº 14.478), ativos virtuais são “a representação digital de valor que pode ser negociada ou transferida por meios eletrônicos e utilizada para realização de pagamentos ou com propósito de investimento”.

Eles podem ser classificados em diversas categorias, incluindo criptomoedas, stablecoins, tokens (de utilidade, de segurança, entre outros) e tokens não fungíveis (NFTs), o que será explicado a seguir.

Conceito e Classificação dos Criptoativos

Criptomoedas

As criptomoedas são moedas digitais que utilizam criptografia para assegurar transações e controlar a criação de novas unidades. Elas operam de forma descentralizada, sem a necessidade de uma autoridade central, permitindo transações diretas entre usuários. As principais aplicações das criptomoedas incluem:

Utilizadas como meio de pagamento: Criptoativos servem para a compra de bens e serviços.

Consideradas uma forma de reserva de valor: Alguns investidores utilizam os criptoativos para proteger o patrimônio contra a inflação.

Utilizadas como investimento especulativo: Devido à volatilidade, os criptoativos são empregados em operações de trading com foco em lucro.

Do ponto de vista das implicações jurídicas, as criptomoedas são objeto de diversas discussões, sendo as principais questões legais levantadas relacionadas a ausência de regulamentação específica que pode gerar insegurança jurídica nas transações, especialmente em casos de inadimplemento ou fraudes e como se aplicariam as regras do direito civil relacionadas às obrigações. 

Além disso, também muito se discute questões relacionadas a direito tributário e a sua sujeição à tributação sobre ganhos de capital e os desafios na integração das criptomoedas ao sistema financeiro tradicional.

Stablecoins

Stablecoins são criptoativos projetados para manter um valor estável, geralmente atrelados a uma moeda fiduciária ou a um ativo real, como o dólar ou o ouro. Suas principais aplicações incluem o uso como meio de pagamento, pois oferecem uma alternativa menos volátil para transações diárias e remessas internacionais, já que facilitam transferências de dinheiro com menores custos e maior rapidez.

As stablecoins apresentam desafios regulatórios específicos, como, por exemplo, a sua equiparação atividades de câmbio. Além disso, pesquisas recentes revelaram que a stablecoins são os ativos virtuais mais utilizados em fluxos de criptomoedas relacionados a atividades ilícitas.

Tokens

Tokens são unidades de valor emitidas por projetos de blockchain, representando diversos ativos ou utilidades. Nesse universo, existem vários tipos de token utilizados para diferentes propósitos, como por exemplo: 

  • Tokens de Utilidade (Utility Tokens): Oferecem acesso a produtos ou serviços dentro de uma plataforma específica. São utilizados para acessar funcionalidades específicas e representam um direito a certos acessos, como por exemplo os Fan Tokens emitidos por alguns times de futebol.
  • Tokens de Segurança (Security Tokens): Representam participações em ativos reais, como ações de empresas, e são sujeitos a regulamentações de valores mobiliários. Permitem a tokenização de ativos tradicionais, facilitando, portanto, a negociação/transferência e a liquidez.
  • Tokens de Pagamento: Funcionam como meio de troca, semelhantes às criptomoedas, dentro e fora do ecossistema blockchain.

Sob o ponto de vista jurídico, cada tipo de token enfrenta desafios legais distintos, como por exemplo a possibilidade de serem considerados contratos de adesão, exigindo conformidade com o Código de Defesa do Consumidor (Tokens de utilidade), e a obrigatoriedade de obedecer às regulamentações de valores mobiliários, incluindo registro e divulgação de informações (Security Tokens).

Tokens Não Fungíveis (NFTs)

NFTs são tokens únicos que representam a propriedade de ativos digitais ou físicos específicos, como obras de arte, itens de jogos e colecionáveis. A sua própria nomenclatura explica que são únicos justamente por serem não fungíveis , ou seja, são invisíveis e insubstituíveis. 

Na prática, representam itens exclusivos ou até mesmo ativos no mundo real e tem como uma vantagem a facilitação de transações e dos processos de investimento e negociação.

Os NFTs introduzem novas questões legais, como discussões relacionadas a Direito Autoral e disputas sobre uso e reprodução desses ativos e até mesmo de Direito Contratual relacionado às condições de compra e venda de NFTs e as obrigações geradas com isso.

Smart Contracts

Apesar de não ser o foco do presente artigo, para entender criptoativos e, principalmente, o seu processo de transferência e negociação no ambiente a blockchain, se mostra relevante explorar o conceito de Smart contracts. 

Smart contracts são programas de computador que executam automaticamente os termos de um contrato quando determinadas condições pré-estabelecidas são atendidas, sendo “protocolos computacionais de natureza digital que têm as mesmas finalidades dos instrumentos de celebração contratual tradicionais”. 

Utilizando a tecnologia blockchain, esses contratos garantem transparência, imutabilidade e execução automática, eliminando a necessidade de intermediários. As principais aplicações dos smart contracts incluem, automação de processos com a execução automática de acordos quando as condições contratuais são cumpridas,  e o funcionamento de plataformas DeFi, permitindo empréstimos, staking e outras operações financeiras sem intermediários tradicionais.

Os smart contracts apresentam desafios e oportunidades no campo jurídico:

  • Direito Contratual: A validade e a execução de smart contracts podem ser questionadas se não estiverem em conformidade com as leis locais. A ausência de uma linguagem jurídica clara e a dificuldade de interpretação podem gerar disputas.
  • Direito das Obrigações: A execução automática pode não considerar eventos imprevistos ou cláusulas de força maior, levantando questões sobre a flexibilidade e a justiça na execução contratual.
  • Responsabilidade Civil: Em caso de falhas ou bugs no código do smart contract, a atribuição de responsabilidade pode ser complexa, especialmente quando não há uma parte claramente identificável como responsável.

Conclusão

A diversidade de criptoativos e suas aplicações práticas oferecem oportunidades significativas para inovação e eficiência em diversos setores. No entanto, essa evolução tecnológica apresenta desafios jurídicos que exigem atenção e adaptação por parte dos profissionais do direito. É essencial que advogados, legisladores e reguladores compreendam profundamente as características e funcionalidades de cada tipo de criptoativo para desenvolver estruturas legais que promovam a inovação, assegurem a proteção dos investidores e garantam a integridade do mercado.

No Brasil, a recente promulgação da Lei nº 14.478/2022, que regulamenta o setor de criptoativos, representa um avanço significativo na busca por segurança jurídica e transparência nesse mercado em crescimento. Essa legislação estabelece diretrizes para a prestação de serviços de ativos virtuais e atribui ao Banco Central a responsabilidade de supervisionar e regulamentar o setor, visando coibir crimes como estelionato e lavagem de dinheiro. 

À medida que o mercado de criptoativos evolui, é crucial que o arcabouço jurídico acompanhe essas mudanças, garantindo um ambiente seguro e propício para a inovação tecnológica e o desenvolvimento econômico.

Referências

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