A economia de baixo carbono é um modelo de desenvolvimento econômico que busca reduzir a intensidade de emissão de carbono advindo das atividades humanas, de modo a preservar um ecossistema mais sustentável. Isso significa diminuir a quantidade de emissões de GEE por unidade de produto ou serviço gerado. O objetivo central é conciliar o crescimento econômico com a mitigação das mudanças climáticas.
Esse conceito envolve a transição de um modelo altamente dependente de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, como ocorre atualmente, para um sistema baseado em fontes renováveis de energia, eficiência energética, transporte sustentável, agricultura de baixo impacto e práticas industriais limpas.
Alguns pontos merecem ser elucidados, especialmente por aqueles que não estão envolvidos diretamente nesse processo de implementação, mas sofrerá as consequências dele.

CONCEITOS BASE: GEE, NEUTRALIDADE E TRANSIÇÃO JUSTA
Para entender plenamente a economia de baixo carbono, é essencial compreender alguns conceitos fundamentais.
Os Gases de Efeito Estufa (GEE) são aqueles que retêm o calor na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Os principais são dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄), óxidos de nitrogênio (N₂O) e gases industriais como os HFCs. Estes têm um potencial lesivo à atmosfera, nossa principal proteção climática.
Outro conceito muito utilizado atualmente é a neutralidade de carbono, a qual pode ser conceituada como o estágio de equilíbrio entre as emissões de GEE e as remoções equivalentes de carbono da atmosfera. Isso pode ser alcançado por meio de compensações, como reflorestamento ou tecnologias de captura de carbono.
Por fim, a transição justa consiste em princípio que busca garantir que a transição para uma economia de baixo carbono ocorra de forma socialmente responsável, protegendo trabalhadores, comunidades vulneráveis e setores impactados. Uma alteração de mercado desta magnitude exige medidas paulatinas para que a sociedade não sofra com o processo de adaptação.
Por que a Economia de Baixo Carbono importa?
O primeiro e mais evidente motivo para a adoção de uma economia de baixo carbono é a urgência de combater os efeitos das mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, será necessário reduzir drasticamente as emissões até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2050.
Se essa meta não for atingida, o planeta enfrentará eventos climáticos extremos com maior frequência e intensidade, afetando a biodiversidade, a produção de alimentos, a disponibilidade de água potável e a saúde pública.
Além de evitar os piores impactos ambientais, a economia de baixo carbono representa uma grande oportunidade econômica. Estima-se que a transição para modelos sustentáveis pode gerar milhões de novos empregos em setores como energias renováveis, mobilidade elétrica, construção sustentável, agricultura regenerativa e tecnologias limpas.
O crescimento de mercados como o de créditos de carbono, energia solar, eficiência energética e tecnologias verdes cria oportunidades para empresas que souberem se antecipar às tendências.
Empresas que lideram a transição climática tendem a ter melhor acesso a financiamentos, atraem investidores preocupados com critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) e ganham preferência de consumidores cada vez mais conscientes.
Quando da criação dos computadores e da internet, aqueles que foram pioneiros puderam nadar em um oceano azul, no qual as oportunidades eram de grande valia, além de não sofrerem com uma concorrência em massa.
Stakeholders da Economia de Baixo Carbono
A pressão por uma economia de baixo carbono não vem apenas da sociedade civil ou de investidores. Há um movimento global de regulamentações climáticas que impõe obrigações concretas a governos e empresas.
O Acordo de Paris, firmado em 2015 por quase 200 países, estabelece metas nacionais de redução de emissões (NDCs – Contribuições Nacionalmente Determinadas). Muitos países, incluindo o Brasil, já incorporaram essas metas em seus planejamentos estratégicos.
Um dos incentivos que os Estados brasileiros têm concedido para alcançar tais objetivos é a isenção de IPVA de carros elétricos. Essa medida tem feito o mercado automotivo se manter aquecido, além de proporcionar uma alteração de matriz energética por parte dos consumidores, no que tange ao seu transporte particular.
Empresas que negligenciam a agenda climática correm sérios riscos de sofrer sanções de mercado. Investidores institucionais, como fundos de pensão e bancos multilaterais, já priorizam aportes em empresas com bom desempenho em sustentabilidade.
Do ponto de vista reputacional, marcas que se associam a práticas sustentáveis conquistam maior confiança e fidelização dos clientes. Por outro lado, empresas expostas a escândalos ambientais sofrem danos severos à sua imagem.
A diversificação da matriz energética, com maior participação de fontes renováveis, também fortalece a segurança energética nacional. Países dependentes de importações de petróleo e gás enfrentam riscos geopolíticos, volatilidade de preços e vulnerabilidades estratégicas.
Tal fato é evidente quando nos deparamos com a realidade do Oriente Médio, onde grande parte dos conflitos se origina da busca pela posse de terras que dispõem de reservas de petróleo. Diversamente desse mercado, as energias limpas, como a energia solar, podem ser aplicadas em praticamente todo o mundo.
Investir em energias renováveis e eficiência energética aumenta a autonomia e a resiliência energética, além de reduzir a vulnerabilidade econômica a choques internacionais.
Tendências Globais e Cenários Futuros
O Acordo de Paris, firmado em 2015, é um marco na luta contra as mudanças climáticas. Trata-se de um tratado internacional adotado por 195 países na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21) em Paris, em 2015, e entrou em vigor em 2016. Seu principal objetivo é limitar o aumento da temperatura média global a no máximo 2°C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para limitar a 1,5°C. Para isso, os países signatários estabeleceram metas próprias de redução de emissões de gases de efeito estufa (as NDCs).
Essas metas são revistas a cada cinco anos e, gradualmente, devem se tornar mais ambiciosas. O Brasil, por exemplo, se comprometeu a reduzir suas emissões em 37% até 2025 em relação aos níveis de 2005 e em 43% até 2030.
Estratégias nacionais e regionais
Diversos países têm avançado com legislações específicas para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. A União Europeia se encontra no processo de implementação do Pacto Verde Europeu (European Green Deal) e do Sistema de Comércio de Emissões (EU ETS), com meta de neutralidade até 2050.
Já os Estados Unidos, enquanto na administração Biden, foram anunciados investimentos maciços em energias limpas através do Inflation Reduction Act. Contudo, em 2017, durante o Governo Trump, os EUA saíram do Acordo de Paris. O mesmo ocorreu no ano de 2025, com o retorno de Trump à presidência.
A China, o maior emissor global de gases de efeito estufa, tem se posicionado como um importante ator na luta contra as mudanças climáticas, buscando um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Seu compromisso é atingir o pico de emissões até 2030 e alcançar a neutralidade até 2060.
No Brasil, adotamos o Plano ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), o qual consiste em uma política voltada à redução de emissões no setor agropecuário, assim como em efetivo compromisso com o combate ao desmatamento e com a adoção de energias limpas.
Grandes empresas globais também estão assumindo compromissos voluntários para a redução de emissões. Iniciativas como o Science Based Targets (SBTi) ajudam as empresas a estabelecer metas alinhadas com a ciência climática.
Gigantes como Microsoft, Amazon e Nestlé já declararam metas de neutralidade de carbono ou emissões líquidas zero nas próximas décadas.
Outras empresas do cotidiano da população brasileira têm buscado neutralizar o carbono de sua operação, como ocorre com o iFood. Esta, após qualquer compra feita junto ao app, informa ao consumidor que todo o CO2 utilizado naquela operação já foi compensado.

CONCLUSÃO
Adotar medidas mais sustentáveis deixou de ser algo meramente mercadológico ou publicitário e se transformou em uma efetiva mudança comportamental das empresas pelo mundo.
A Economia de Baixo Carbono figura como uma nova etapa da história mundial, de modo a permitir que a continuidade das espécie humana seja possível, sem que isso cause um risco à economia global.
Adotar medidas de combate à alta emissão de gases poluentes é o primeiro passo para garantir um planeta mais sustentável e empresas que visem, além do lucro, um planeta cada dia melhor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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