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COP30: como se preparar e qual a sua importância para o país?

Introdução

A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, ocorrerá de 10 a 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará  Será a primeira vez que o Brasil sedia uma COP, e a escolha da Amazônia como palco central simboliza tanto um compromisso ambiental quanto desafios logísticos e políticos.

I – Por que a COP30 importa para o Brasil?

Ao sediar a COP30, o Brasil assume uma posição estratégica no debate climático. Com a maior parte da Floresta Amazônica sob sua responsabilidade, o país pode reafirmar seu papel central na regulação climática global. Trata-se de uma oportunidade para reforçar que emergentes podem liderar agendas de desenvolvimento sustentável, harmonizando preservação ambiental e crescimento econômico 

Diversas análises indicam que a transição ecológica gerará impacto econômico expressivo, o qual tem efetivo potencial de resultar um crescimento de até US$ 430 bilhões no PIB brasileiro até 2030, com a criação de 7,5 a 10 milhões de empregos verdes, em áreas como bioeconomia, energia renovável, economia circular e infraestrutura verde 

Além disso, a COP30 atrai interesse de fundos de investimento climático e instituições globais, podendo catalisar parcerias e projetos de impacto no Brasil, especialmente em torno da bioeconomia amazônica e energias limpas 

O lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) está previsto para a COP30. Trata-se de um mecanismo de blended finance estimado em US$ 125 bilhões, que irá remunerar países com florestas tropicais em pé e penalizar áreas desmatadas vivendo com o retorno das operações. O Brasil propôs o TFFF como parte de seu legado na COP. 

Diferentemente das últimas edições, a COP30 tem o compromisso explícito com a participação social ampla, a partir da interlocução direta entre sociedade civil e organizadores por meio de grupos de trabalho e “círculos temáticos”, com destaque para o Comitê COP30, que articula ativistas latino-americanos com foco em infraestrutura, NDCs, negociações e comunicação.

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, alertou para a emergência de um novo tipo de resistência ao clima: o “economic denial”, que questiona a viabilidade econômica da transição para uma economia de baixo carbono. A tarefa da COP é mostrar que a transição climática também oferece ganhos econômicos reais, sem que gere efetivamente prejuízos maiores que o lucro ao longo prazo.

II – Como o Brasil deve se preparar para a COP30?

Até setembro de 2025, os países devem apresentar NDCs atualizadas. O Brasil precisa reafirmar metas ambiciosas, como zerar o desmatamento em 2030 e reduzir emissões de 59–67% até 2035 em relação a 2005. 

(Já falamos de NDCs aqui no blog – Link do artigo)

Além disso, propõe-se um conceito de “Global NDC”, que inclua compromissos de empresas, municípios e estados no processo global (Global Stocktake) 

Para fins de recebimento de um evento desse porte, a cidade de Belém vem recebendo investimentos públicos e privados – cerca de R$ 4 bilhões só em 2024 – para infraestrutura urbana, drenagem, saneamento, mobilidade e o Parque da Cidade, local das negociações 

A rede hoteleira da cidade foi ampliada com mais hotéis, casas adaptadas, cruzeiros e escolas convertidas em hospedagem. Foram reservados mais de 30.000 quartos, com opções subsidiadas para países em desenvolvimento, além de 3.900 cabines em cruzeiros 

Visando uma maior eficiência na comunicação acerca do tema, o Brasil lançou uma Iniciativa Global contra a Desinformação Climática, em cooperação com UNESCO e ONU, com metas de arrecadar US$ 10–15 milhões nos próximos 36 meses e financiar pesquisas e campanhas para combater negacionismo climático 

Para isso, tem ocorrido uma forte mobilização do setor privado via o Pacto Global – Programa Rumo à COP30, o qual se encontra estruturado em projetos coletivos para reduzir emissões, combater desmatamento, promover economia circular e segurança hídrica. O Brasil tem incentivado empresas a assumirem papéis de destaque, mostrando que sustentabilidade é vantagem competitiva e não um custo 

Contudo, para que haja uma efetivação das medidas adotadas é necessário um monitoramento apurado. Apesar dos esforços, reformas recentes na legislação ambiental — como flexibilização de licenciamento ambiental — geram críticas de que o país pode perder credibilidade durante a COP30 caso o governo aprove as novas regras que contrariam o discurso climático.

Além disso, escândalos como o projeto da Avenida Liberdade — rodovia controversa dentro da Amazônia vinculada à COP — requerem transparência e explicações claras para evitar danos reputacionais 

III – Riscos e desafios

Os discursos por si só não bastam. É necessário avançar na implementação das novas medidas. Caso as leis flexibilizem o licenciamento ambiental ou admitirem expansão de petróleo (como planos da Petrobras com investimentos bilionários), o Brasil pode perder legitimidade e liderança nas negociações.

Não obstante, a cidade de Belém enfrenta problemas históricos de saneamento (apenas 2 % de esgoto tratado), poluição urbana e violência, o que desafia credibilidade do evento como modelo sustentável 

Frente à polarização política, outro desafio consiste no avanço de discursos antiambientais e técnicos restritivos, os quais exigem campanhas contundentes e com credibilidade para engajar a sociedade e a mídia.

IV – Cenário ideal de sucesso até novembro de 2025

Para atingirmos um patamar ideal até o evento é necessário se atentar a alguns pontos chave da temática.

Primeiramente, o Brasil deve apresentar um plano climático claro com metas bem definidas até 2035, incluindo o desmatamento zero.

Além disso, o TFFF deve ser lançado com capital operacionalizado e acordos assinados com países tropicais.

Como parte dos agentes envolvidos na COP consiste no meio empresarial, as empresas brasileiras devem mostrar lideranças em economia circular, energias limpas, bioeconomia amazônica e governança ESG.

Por fim, a COP30 deve ocorrer com forte presença cidadã e da sociedade civil — com ativistas, comunidades tradicionais e movimentos sociais influenciando a agenda formal. A lógica econômica confirma que mitigar os impactos climáticos também gera crescimento, conforme salientou André Corrêa do Lago, presidente da COP30 

Conclusão

A COP30 representa mais do que uma conferência internacional: é uma encruzilhada para o Brasil. Sediar a COP na Amazônia é uma chance de reposicionar o país como protagonista da agenda climática global — econômica, ambiental e diplomaticamente. 

No entanto, esse protagonismo exige preparação sólida: da infraestrutura logística ao fortalecimento institucional, da ambição nas metas climáticas ao engajamento social e combate à desinformação. 

O sucesso da COP30 dependerá da coerência entre discurso e prática, da transparência nas decisões políticas e da articulação entre governos, sociedade, setor privado e ciência.

Se bem aproveitada, a COP30 pode marcar um novo capítulo na trajetória do Brasil rumo a uma economia verde, justa e sustentável — para o bem do país e do planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE CASTRO, Ana Beatriz Amaral; DOS SANTOS DIAS, Daniella Maria. BELÉM, COP 30 EO DIREITO À CIDADE: MEGAEVENTOS, GENTRIFICAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIOESPACIAL. ARACÊ, v. 7, n. 2, p. 9062-9079, 2025.

FEARNSIDE, Philip M.; FILHO, Walter Leal. COP 30: Brazilian policies must change. Science, v. 387, n. 6740, p. 1237-1237, 2025.

HOMMA, Alfredo. Amazônia pré-COP 30: quais os caminhos?. Revista de Política Agrícola, p. e01988-e01988, 2024.

PINTO, Talita Priscila. COP 30: último ato ou nova cena no meio climático global?. AgroANALYSIS, v. 45, n. 01, p. 31-32, 2025.

TEIXEIRA, Izabella. A COP 30 e o futuro da agricultura tropical brasileira. AgroANALYSIS, v. 44, n. 06, p. 40-41, 2024.

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