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Como ser um líder preparado para a inovação digital no Setor Público?

Vivemos uma era de profundas transformações sociais, econômicas e tecnológicas. A digitalização avança em ritmo acelerado, impactando as relações de trabalho, o consumo, a educação, a saúde e, inevitavelmente, a Administração Pública. 

O setor público enfrenta, na atualidade, uma transformação sem precedentes impulsionada pela revolução digital, pelas novas demandas sociais e pela crescente cobrança por eficiência, transparência e inovação na gestão pública. 

Nesse contexto, a presença de líderes com visão digital e formação estratégica tornou-se uma necessidade imperativa para garantir que o setor público acompanhe as mudanças tecnológicas e atenda às expectativas da sociedade contemporânea.

Frente ao avanço contínuo e exponencial, gestores precisam estar antenados aos avanços sociais, de modo que apliquem uma visão digital e uma formação estratégica capaz de enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades dessa nova realidade.

O NOVO CENÁRIO DA GESTÃO PÚBLICA

A sociedade atual é caracterizada pela velocidade das mudanças e pela crescente complexidade dos problemas públicos. A população está mais conectada, informada e exigente. Espera-se dos governos serviços mais eficientes, acessíveis e transparentes. 

Além disso, fenômenos como a transformação digital, a inteligência artificial, o big data e a internet das coisas estão redefinindo as formas de produção e prestação de serviços.

Enquanto empresas privadas já internalizaram a necessidade de transformação digital para manter a competitividade, o setor público ainda enfrenta resistências estruturais, culturais e institucionais. No entanto, a pressão social por modernização é crescente, colocando os gestores públicos diante de uma encruzilhada: adaptar-se ou tornar-se obsoleto.

A URGÊNCIA POR UMA VISÃO DIGITAL

Ter uma visão digital não significa apenas adotar novas tecnologias, mas entender de forma estratégica como essas tecnologias podem redesenhar processos, otimizar recursos e melhorar a experiência do cidadão com os serviços públicos. Trata-se de uma mudança de mentalidade, que envolve desde a reestruturação de fluxos administrativos até a formulação de políticas públicas baseadas em dados.

Líderes com visão digital são capazes de interpretar as tendências tecnológicas, antecipar cenários e promover a inovação dentro da gestão pública. Eles compreendem que a tecnologia é um meio para atingir melhores resultados, e não um fim em si mesma. Sabem, por exemplo, que a digitalização de um serviço não é apenas sua transposição para um ambiente online, mas uma oportunidade de repensar sua forma de entrega, tornando-o mais ágil e centrado no cidadão.

FORMAÇÃO ESTRATÉGICA: A BASE DA LIDERANÇA TRANSFORMADORA

Ter visão digital, contudo, não basta, é preciso combinar essa competência com uma sólida formação estratégica. Liderar no setor público exige habilidade para lidar com recursos escassos, múltiplos stakeholders, regras burocráticas e uma cultura organizacional tradicionalmente resistente a mudanças.

Uma formação estratégica capacita o líder público a planejar a longo prazo, identificar prioridades, gerir riscos e tomar decisões com base em evidências. Além disso, permite o desenvolvimento de competências fundamentais como negociação, gestão de crise, comunicação institucional e articulação política, as quais são essenciais para a busca do interesse público.

Um líder estrategista no setor público é aquele que compreende o impacto das decisões de hoje nos desafios de amanhã. Ele sabe equilibrar as demandas imediatas da sociedade com a necessidade de construir políticas públicas sustentáveis e inovadoras.

EXEMPLOS PRÁTICOS DA NECESSIDADE DE LIDERANÇA DIGITAL E ESTRATÉGICA

Alguns exemplos práticos ilustram a importância dessa combinação de competências. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, os governos que possuíam líderes com visão digital e formação estratégica conseguiram implantar soluções como teleatendimento na saúde, aulas remotas na educação pública e auxílios emergenciais por meio de plataformas digitais em tempo recorde.

Outro exemplo é o avanço de cidades inteligentes (smart cities), onde a gestão pública integrada por dados permite otimizar desde o trânsito até a iluminação pública, com economia de recursos e maior qualidade de vida para a população. 

Nessas experiências, líderes com capacidade estratégica foram fundamentais para articular parcerias público-privadas, viabilizar investimentos e engajar a população nos novos modelos de governança urbana.

OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE LÍDERES PÚBLICOS DIGITAIS

Apesar da clara necessidade, formar líderes com essas competências no setor público brasileiro ainda é um grande desafio. Muitas administrações públicas não possuem programas de desenvolvimento de lideranças com foco em inovação e tecnologia. A formação de gestores ainda está muito voltada a aspectos burocráticos e normativos, com pouca ênfase em pensamento estratégico ou competências digitais.

Outro obstáculo relevante é a resistência cultural. A transformação digital implica mudanças profundas nos modos de trabalho, nas estruturas hierárquicas e nos modelos de controle. Romper com a cultura de aversão ao risco, típica do serviço público, exige líderes capazes de conduzir processos de gestão da mudança de forma sensível e inteligente.

Além disso, o ciclo político-eleitoral, que muitas vezes traz descontinuidade nas políticas de gestão pública, é um fator que dificulta a implementação de projetos de transformação digital que exigem maturação de médio e longo prazo.

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS PARA OS NOVOS LÍDERES PÚBLICOS

Para que o setor público avance na direção da transformação digital, é necessário que seus líderes desenvolvam algumas competências fundamentais, como: 

  1. Alfabetização Digital: Entendimento básico sobre tecnologias emergentes, dados abertos, segurança da informação e transformação digital.
  2. Visão Estratégica: Capacidade de antecipar tendências, estabelecer prioridades, definir metas claras e gerenciar indicadores de desempenho.
  3. Gestão por Resultados: Foco na entrega de valor público, com utilização de ferramentas de gestão de projetos e avaliação de impacto.
  4. Liderança Colaborativa: Habilidade para trabalhar de forma integrada com diferentes órgãos, instituições e setores da sociedade.
  5. Capacidade de Inovação: Estímulo à criatividade, experimentação controlada e aceitação de erros como parte do processo de aprendizagem.
  6. Comunicação Institucional: Saber comunicar as mudanças, engajar servidores e manter a população informada sobre os benefícios da transformação digital.

A partir do desenvolvimento dessas competências será possível exercer uma liderança moderna e atenta às novas tecnologias.

O PAPEL DAS ESCOLAS DE GOVERNO E INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO

Diante desse cenário, as escolas de governo e instituições de capacitação pública assumem um papel fundamental. É necessário oferecer formações que vão além do conteúdo jurídico e administrativo tradicional, incorporando disciplinas como inovação no setor público, ciência de dados aplicada à gestão, design thinking para políticas públicas e transformação digital.

Iniciativas como o desenvolvimento de trilhas de aprendizagem focadas em liderança digital, a criação de laboratórios de inovação no setor público e a aproximação com universidades e centros de pesquisa tecnológica são estratégias que podem acelerar esse processo.

CONCLUSÃO

A transformação digital na administração pública não é uma escolha, mas uma necessidade para que o Estado consiga atender de forma eficiente e transparente as novas demandas sociais. Nesse contexto, a formação de líderes com visão digital e estratégica é um dos pilares mais importantes para o sucesso das políticas públicas do século XXI.

O futuro da gestão pública dependerá da capacidade de seus dirigentes de interpretar dados, tomar decisões baseadas em evidências, promover a inovação e liderar equipes multidisciplinares. Mais do que nunca, a liderança pública precisa ser proativa, criativa e preparada para operar em um ambiente em constante transformação.

Formar e valorizar esses líderes será um passo essencial para construir um setor público mais eficiente, inclusivo e alinhado com as expectativas da sociedade digital.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Ailton Ferreira; SILVESTRE FILHO, Irajá; DE OLIVEIRA, Valdivino José. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO CONTINUADA PARA LÍDERES PÚBLICOS: PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM GESTÃO PÚBLICA. Revista Políticas Públicas & Cidades, v. 14, n. 1, p. e1519-e1519, 2025.

CARDOSO JÚNIOR, José Celso; PEDROSA, Thalita Lopes Saraiva. O modelo referencial do ciclo laboral aplicado ao setor público federal: rumo à construção de uma visão e ação sistêmica da gestão de pessoas no Brasil. Brasília: Enap, 2025.

MAGALDI, Sandro; NETO, José Salibi. Gestão do Amanhã: Tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4a Revolução Industrial. Editora Gente Liv e Edit Ltd, 2018.

SARAIVA, Larissa Lima Ferreira. Fake news e comunicação estratégica: experiências do setor público diante dos desafios da desinformação na sociedade em rede. 2023. 118 f. Dissertação (Programa Stricto Sensu em Comunicação) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2023.

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