Na realidade da maioria dos pesquisadores brasileiros ainda é essencial conciliar a vida acadêmica com a vida profissional. Tal situação não é a ideal, visto que isso expõe o pesquisador a situação de estresse constante, seja pelo trabalho, seja pela pesquisa. Na realidade do direito isso é ainda mais verdade, pois ambas as atividades necessitam de análise constante.
Dentro desse contexto, na busca de conciliar a atividade acadêmica com a profissional, muitos pesquisadores procuram pontos de intersecção entre a pesquisa e o trabalho. Seja pela similitude da matéria de pesquisa com a matéria do trabalho, ou até mesmo a utilização da pesquisa como uma forma de rentabilizar.
Este excerto serve não apenas para pesquisadores pensarem em novas estratégias para conciliar o meio acadêmico e o profissional, por meio do aproveitamento das habilidades de um campo para o outro, mas, principalmente, para os aspirantes a pesquisadores, aqueles que têm receio de ingressar na vida acadêmica por medo de não conseguirem conciliar.
É um receio natural, sem dúvida. Isso demonstra um senso de responsabilidade aguçado que é essencial para a acadêmia e para o profissional. Mas, para além de ser possível a conciliação, a utilização dos conhecimentos adquiridos na academia demonstra que, ao estudar a teoria, igualmente está aguçando habilidades essenciais para o mercado de trabalho.

Conciliar a matéria de estudo com a matéria de trabalho
A principal forma que encontramos de conciliar a academia com a profissão é pesquisar aquilo que se trabalha. Ora se sou um advogado civilista especializado, por exemplo, em direito imobiliário, é natural que busque estudar assuntos relacionados ao direito imobiliário. Portanto, ao mesmo tempo que pesquiso para a academia, também desenvolvo meu conhecimento na área profissional.
Essa forma de conciliação é muito utilizada na advocacia consultiva, a qual impõe ao advogado a necessidade de ter um conhecimento afiado na matéria de especialidade. Quando se contrata um advogado consultivo, espera-se que já tenha as respostas prontas. Para tanto, é exigido do profissional que esteja em constante estudo e, principalmente, atualizado.
Tal atualização, por óbvio, pode ser alcançada por meio do estudo científico, o qual deixará o profissional em contato com o que há de mais atual não só no direito brasileiro, mas no mundo. Para além de entender os pormenores da lei e jurisprudência, a pesquisa dá a vantagem ao advogado consultivo de ter uma visão do futuro, de quais teorias estão em desenvolvimento e poderão ser introduzidas no Brasil.
Para aqueles advogados que não possuem uma área de especialidade, ou que seja do contencioso mais generalista, ainda assim a pesquisa tem muito a oferecer. Seja a oportunidade de se especializar em um assunto de seu interesse, seja pelos benefícios reflexos do meio acadêmico.

Melhor argumentação: exposição de ideias de forma mais claras
Para além de permitir que nos aprofundamos no saber jurídico, a pesquisa nos auxilia e muito na organização das ideias, principalmente no estudo da lógica. Normalmente, na academia, o estudo da lógica está atrelado à metodologia, pois guarda relação próxima com o modo de estruturação da própria pesquisa.
A lógica é uma ciência que tem como principal finalidade a estruturação de ideias de forma racional, nas palavras do professor Douglas N. Walton: “(…). Tradicionalmente, a teoria lógica tende a enfatizar as relações semânticas, ou seja, as relações entre conjuntos de proposições verdadeiras ou falsas. (…). A teoria lógica, então, se preocupa basicamente com as proposições que constituem o argumento”.
Quando falamos nos objetivos intermediários da pesquisa, no fundo, em linguagem lógica, estamos falando dessas “proposições”. Em linguagem mais técnica, são basicamente as premissas. Tais proposições, ao estarem estruturadas em um texto, chegam a uma conclusão, que é justamente o desfecho de uma tese.
Dentro da lógica, há a pragmática lógica, a qual tem a mesma preocupação com a relação entre as proposições, mas refina o estudo e o foca na análise crítica dos argumentos, sejam estes da área acadêmica, seja os do dia a dia. As mesmas regras que integram a lógica também estão presentes na pragmática lógica, mas com um olhar aplicado à realidade.
Portanto, se torna claro que ao desenvolver a pesquisa e se aprofundar no estudo da lógica, naturalmente, o profissional do direito estará mais apto a desenvolver argumentos, bem como a analisar criticamente os argumentos contrários à sua ideia.
Ora, o advogado contencioso funciona diretamente nessa lógica. Ao escrever uma contestação, ou uma réplica, tal profissional está a analisar um argumento e precisa de ferramentas para rebatê-lo, as quais são fornecidas pela lógica, principalmente a pragmática.
Futuramente, neste blog, trataremos acerca da pragmática lógica, apresentaremos as formas adequadas de apresentarmos argumentos, bem como o que são as falácias. Se este assunto te interessa, então assine nossa newsletter e acompanhe de perto o blog do IDP.
Para além da análise argumentativa, a análise crítica das informações por si só é outro aspecto benéfico da pesquisa, a qual tem impacto direto na vida profissional.
Mais eficiência na pesquisa e análise de dados
Um dos maiores benefícios do estudo acadêmico é justamente a pesquisa. Não apenas acadêmicos realizam pesquisas, isso é parte importante do trabalho desenvolvido por advogados, juízes, promotores e defensores públicos. A constante mudança legislativa, e mais ainda da interpretação jurisprudencial, força a constante pesquisa.
Na contemporaneidade não temos mais o problema de acesso à informação, essa é abundante e de fácil acesso pela internet. O nosso problema atual é filtrar tais informações com base em suas fontes, reconhecer e ter fontes confiáveis é essencial. Para além da confiabilidade das fontes, é imperativo que o profissional saiba analisá-las de forma adequada e proveitosa.
Eis que a pesquisa acadêmica tem grande contribuição no ambiente profissional: um acadêmico habilidoso, acostumado a pesquisar, terá acesso a fontes mais acuradas e muito mais confiáveis. Ademais, terá o senso crítico para analisar a fonte da informação, verificar se de fato é uma fonte confiável ou não. Não é incomum na internet muitas informações passarem por ciência, tais “armadilhas” serão mais facilmente detectadas pelo profissional acadêmico.
Não é incomum na pesquisa científica o acadêmico se deparar com diversos dados e precisar analisá-las criticamente. Para além disso, necessita catalogá-las e classificá-las de forma adequada. Isso força o profissional do direito a se familiarizar com ferramentas de organização que certamente serão utilizadas no meio profissional, principalmente na confecção e exposição de relatórios.

Conclusão: sim, é possível
A lógica de nossa contemporaneidade está associada à eficiência, como é descrito pelo sociólogo coreano Byung Chul Han. Não queremos perder tempo com algo que não vemos como proveitoso. É justamente por observar a academia como algo proveitoso apenas pelo diploma, que o caminho é árduo e sem nenhum ganho imediato, que muitas vezes nos afastamos da pesquisa científica.
Mas isso não é verdade. Como discorrido acima, a pesquisa acadêmica traz múltiplos ganhos para além do diploma. Interiorizar isso nos ajuda a empenhamos mais na conciliação da pesquisa com o trabalho.
De toda sorte, para que tal conciliação seja ainda mais fácil e palatável, é essencial que se escolha uma boa instituição de ensino, com planos de ensino versáteis para um dia a dia cada vez mais ocupado pelo trabalho. A instituição ideal para isso é o IDP com suas pós-graduações híbridas, as quais têm aulas presenciais e online, ambas igualmente proveitosas e com um corpo docente experiente e atualizado. Não perca tempo, seja IDP e veja como é possível conciliar o profissional e a teoria.

Referências
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023.
WALTON, Douglas N. Lógica Informal: manual da argumentação crítica.Tradução de Fernando Santos. SP: WMF Martins Fontes, 2012.